O grande erro na discussão sobre Inteligência Artificial

Henrique Medeiros • 25 de março de 2024

Seremos substituídos pela Inteligência Artificial?

Os avanços tecnológicos, em especial o mais recente, a inteligência artificial, são temas de profundos debates sobre a vida em sociedade, o futuro do trabalho e a necessidade de acompanharmos a evolução das “máquinas”. Curiosamente, embora estejamos falando de inovações, vemos seres humanos cada vez mais inseguros em função da ameaça de substituição.


Diante dessa insegurança, eis que surge o grande erro na discussão sobre os efeitos que a inteligência artificial pode causar. Explico-me: não indo muito longe, passamos pela era da revolução industrial, depois entramos na era da revolução tecnológica (onde houve uma expansão significativa dos computadores, surgimento da internet, redes sociais etc.), entramos na era da indústria 4.0 (onde máquinas se interligam com sistemas, internet) e, por fim, estamos experimentando a tão temida inteligência artificial.


Ok! Mas onde está mesmo o “bug”? ‘Elementar, meu caro Watson!’ A tecnologia, bem como todas as inovações que ela nos traz, é uma constante. Ela não é um fim em si. É meio. Ela sempre nos proporcionará novas e novas possibilidades de utilização. O que nos leva a concluir que a tecnologia não pode ser, de forma alguma, objeto principal da discussão, mas sim o que é variável, justamente, nós, seres humanos. Ou, em outras palavras, sendo a tecnologia algo em constante evolução, a responsabilidade de utilizá-la para gerar qualidade de vida para toda a humanidade é, e sempre será, uma prerrogativa nossa, humana. E ponto!


E como fazemos isso? Mudando o nosso local de busca por respostas. Ao invés de perguntarmos para a inteligência artificial, para as diversas tecnologias, como substituirmos postos de trabalho, devemos perguntar, a nós mesmos, de carne e osso, como utilizá-las. Imaginem, por exemplo, para limpar os oceanos, despoluir rios, recuperar biomas devastados, construir moradias dignas para todos que não possuem, instalar saneamento básico para todos, produzir alimentos para todos, produzir energias limpas, renováveis, instalar indústrias de reciclagem, construir ferrovias, centros de pesquisas, hospitais, escolas, transporte público de qualidade ou implementar qualquer solução que traga bem-estar às pessoas e ao planeta.


Imaginaram? Agora pensem em quantas qualificações precisaremos ter, formar, para construirmos um novo mundo melhor e sustentável. Vai faltar trabalho? A inteligência artificial vai nos substituir? Não, seres humanos, não vai, pois a falta de líderes no mundo e suas consequências, a ganância que vem dilacerando nossos valores, a concentração de renda que faz pessoas morrerem de fome, a soberba que tem escravizado parte da humanidade, o consumo exorbitante que vem saqueando nosso planeta, a inveja que vem alimentando a competição voraz, a preguiça que nos faz indiferentes e o ódio que torna pessoas em objetos inanimados, não são problemas tecnológicos. São nossos! Portanto, é hora de apertamos o nosso botão de reiniciar...


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Henrique Medeiros é especialista em gestão e psicanalista, autor do livro “Células Sociais Caórdicas – O Caminho Para Um Novo Mundo”. É formado em Tecnologia da Informação com MBA em Gestão Empresarial pela FGV e tem mais de 25 anos de experiência no mercado de tecnologia.

 

Reprodução: Artigo publicado no Jornal do Commercio (PE) em 12 de julho de 2023.


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Parêntese: somente para termos uma noção da distor- ção gerada quando decidimos monetarizar nossa existência (pasmem!), em 2010, a diferença entre a quantidade de dinheiro existente no mundo e a quantidade gerada de bens e serviços encontrava-se na casa de 110 trilhões de dólares. Isso mesmo! De acordo com o Banco Mundial, enquanto o PIB mundial ficou, em 2010, em torno de U$ 66 trilhões de dólares, estimativas apontam que a quantidade de “dinheiro” no mundo, basicamente títulos públicos, privados, ações e depósitos bancários, encontrava-se na ordem dos 170 trilhões de dólares. Em suma, o dinheiro virou um bem, produto, algo a ser produzido independente de ele gerar benefícios para a sociedade. Vou até um pouquinho mais longe. Indepen- dente da aberração de gerarmos dinheiro pelo dinheiro, o próprio acréscimo do PIB também já não reflete, há tempos, aumento na qualidade de vida. O que nos sugere buscar urgentemente novos mecanismos mais eficazes para medir o desenvolvimento humano. Falarei sobre como precisamos medir o desenvolvimento de uma nação um pouco mais adiante. Parêntese feito, pergunto-lhes: por que, se dinheiro não tem vontade própria, governos, empresas e a sociedade decidiram monetarizar nossa existência? Por que há tanta concentração de renda no mundo? Por que estamos cada vez mais divididos em extremos? Por que há tantos conflitos no mundo? Por que estamos dizimando nossa casa? Por que há tanta indiferença no mundo? A resposta, caras leitoras, caros leitores, é simples: chegamos a essa situação, fora de qualquer propósito, surreal, de degradação humana, ambiental, em decorrência do maior problema que temos atravessado nas últimas décadas: a falta de líderes. Pela falência no processo de preparação de novos líderes, pelo apagão de líderes que se instalou em todo o planeta. Pela falta de líderes capazes de juntar pessoas em torno de objetivos comuns, pela ausência de líderes capazes de colocar os seres humanos, não o dinheiro, em primeiro lugar. Pela carência de líderes que valorizem o ser humano, não o poder. Pela carestia de líderes que tenham a destreza de propor, negociar novas formas viáveis de existência humana, catalisando os diferentes anseios das pessoas e endereçando-os com suas devidas especificidades. Pela pobreza de líderes que respeitem a diversidade humana e tenham a capacidade de extrair o melhor de cada um. Pela falta de líderes que mantenham a integridade, o discurso e a prática coerentes. Pelo desprovimento de líderes capazes de ouvir, de serem humildes, de reconhecerem seus próprios erros e corrigirem os caminhos, quando necessário. Pela ausência de líderes tolerantes, que troquem prestígio por empatia. Pelo vácuo de líderes que atuem como articuladores da paz. Pela total falta de líderes que, todos os dias, se perguntem: como eu posso melhorar a vida das pessoas? Pela completa ausência de líderes que entendam que suas palavras, tanto quanto armas, podem causar danos. Pelo completo equívoco de falsos líderes que acreditam que liderança é sinônimo de mando, prepotência, arrogância, mas, principalmente, pelo vazio de líderes que perante a humanidade tão dividida, como a atual, consigam trazer, com urgência, as pessoas à mesa para discutirem juntas e permanentemente novos caminhos para os grandes problemas da humanidade, tais como guerras, doenças, intolerância, desigualdade, fome, devastação do nosso planeta etc. Vamos à verdade: fato é que se deixarmos tudo como está, se deixarmos de vez o leite derramar, se seguirmos com esse modelo existencial, monetarizado, sem líderes, precisaremos dedicar um esforço infinitamente maior, do que hoje precisamos, para formar líderes que ajudem a transicionar o atual modelo de sobrevivência para um modelo digno de existência. Líderes! Com eles criaremos um novo mundo. Sem eles, faço um protesto sobre o que vem ocorrendo no meu próprio país e que exemplifica, perfeitamente, o que a ausência deles pode nos causar. Infelizmente, aqui no Brasil, pela inexistência de líderes íntegros, comprometidos com pessoas, com as instituições, de líderes que tenham compaixão, estamos vivendo há décadas crises por cima de crises que só se justificam pelas atitudes, ou falta delas, das nossas tristes “lideranças”. Sejamos francos: excluindo reais crises internacionais, nossas agruras têm como origem os nossos próprios governantes. Nossas crises são, via de regra, “Made in Brazil”. E ainda temos a pachorra de colocar a culpa em crises totalmente imaginárias que ocorrem lá fora. Enquanto países com um mínimo de lideranças estão achando soluções para os seus problemas, nós, brasileiros, lamentavelmente continuamos patinando, correndo em círculos e perdendo várias janelas de oportunidades. O que para nós, um povo em sua grande maioria trabalhador, engenhoso, resiliente, tem sido absolutamente lastimável, inaceitável, portanto não podemos, e não vamos mais, concordar que sejamos governados por líderes de quinta categoria. E, como desgraça pouca é bobagem, com o aparecimento da pandemia, acentuamos ainda mais nossas mazelas em decorrência de “lideranças” egocêntricas, despreparadas, arrogantes, estúpidas que só pensam em se perpetuar no poder. Adendo: economizei nos adjetivos em relação aos nossos “líderes”. O que acredito, de verdade, a respeito deles, em especial de dois, em especial de um, é absolutamente impublicável. O vazio de líderes é mesmo uma tragédia, mas, para balancear um pouco, deixo também uma mensagem de esperança: quando inundarmos nosso país de Células Sociais Caórdicas, deixaremos de jogar pela janela nossa fantástica capacidade de adaptação, nosso singular talento para criar soluções e nossos estupendos recursos naturais para, juntos, construirmos o país maravilhoso que deve- ras merecemos. Eis que surge uma nova pergunta: E agora? Como diante de um mundo tão monetarizado, sem líderes, podemos unir os nossos esforços para criar um mundo melhor? Se formos todos para o capitalismo selvagem, adeus planeta Terra. Se formos todos para um modelo extremamente igualitário, pareceremos pinguins amon- toados no frio. Ah! Que beleza! Nem só de tristezas vive a humanidade! Com a disseminação sem precedentes das informações, temos percebido, embora lentamente, que esse modelo de vida, mais que ultrapassado, degradado, baseado em acordar, trabalhar, monetarizar a nossa existência, comprar e dormir está com os seus dias contados. Felizmente temos percebido que o modelo industrial, muitas vezes escravo, que se impregnou por décadas e décadas em nossas almas e nos transformou, praticamente, em robôs, está agonizando. Partindo então do princípio de que formar líderes é condição sine qua non para criarmos um mundo melhor, que não estamos totalmente acordados, mas não estamos completamente dormindo, conclamo a todos a voltarmos às aulas de Biologia. Convido a todos para, neste momento, relembrarmos um assunto que não apenas explica a base da nossa existência, como também servirá de base para um novo mundo fundamentado em Células Sociais Caórdicas: o modo como o nosso organismo funciona . ----------------------------------------------------------------------------------- Trecho do segundo capítulo do livro: Células Sociais Caórdicas: O caminho para um novo mundo. Publicado por Henrique Medeiros em setembro de 2022.
Profissionais de TI alinhados à cultura organizacional, felizes em seu ambiente de trabalho.
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