"Um verdadeiro governante, um verdadeiro líder acorda, todos os dias, perguntando-se: estou fazendo tudo o que eu posso para melhorar a vida das pessoas? Minhas ações estão preservando o planeta? Estou tornando a população dependente de esmolas ou agindo para torná-la autosustentável? O que eu preciso aprimorar, em mim, para que possa melhorar a vida do meu semelhante?"
- Henrique Medeiros
Apresento-lhes agora o que, na minha visão, trouxe-nos até esse modelo falido de organização mundial. E não tenho dúvidas: o principal fator de degradação da humanidade está intimamente relacionado com a maneira com a qual governos, empresas e a sociedade vêm atuando quando, soberbamente, optaram por transformar os seres humanos em mero meio de produção e não um fim em si mesmo. Algo bem semelhante ao que é apresentado no filme Matrix, em que seres humanos são utilizados por máquinas, como mera fonte de geração de energia. Em nosso caso, para a geração de dinheiro.
Parêntese: somente para termos uma noção da distor- ção gerada quando decidimos monetarizar nossa existência (pasmem!), em 2010, a diferença entre a quantidade de dinheiro existente no mundo e a quantidade gerada de bens e serviços encontrava-se na casa de 110 trilhões de dólares. Isso mesmo! De acordo com o Banco Mundial, enquanto o PIB mundial ficou, em 2010, em torno de U$ 66 trilhões de dólares, estimativas apontam que a quantidade de “dinheiro” no mundo, basicamente títulos públicos, privados, ações e depósitos bancários, encontrava-se na ordem dos 170 trilhões de dólares.
Em suma, o dinheiro virou um bem, produto, algo a ser produzido independente de ele gerar benefícios para a sociedade. Vou até um pouquinho mais longe. Indepen- dente da aberração de gerarmos dinheiro pelo dinheiro, o próprio acréscimo do PIB também já não reflete, há tempos, aumento na qualidade de vida. O que nos sugere buscar urgentemente novos mecanismos mais eficazes para medir o desenvolvimento humano. Falarei sobre como precisamos medir o desenvolvimento de uma nação um pouco mais adiante.
Parêntese feito, pergunto-lhes: por que, se dinheiro não tem vontade própria, governos, empresas e a sociedade decidiram monetarizar nossa existência? Por que há tanta concentração de renda no mundo? Por que estamos cada vez mais divididos em extremos? Por que há tantos conflitos no mundo? Por que estamos dizimando nossa casa? Por que há tanta indiferença no mundo? A resposta, caras leitoras, caros leitores, é simples: chegamos a essa situação, fora de qualquer propósito, surreal, de degradação humana, ambiental, em decorrência do maior problema que temos atravessado nas últimas décadas: a falta de líderes.
Pela falência no processo de preparação de novos líderes, pelo apagão de líderes que se instalou em todo o planeta. Pela falta de líderes capazes de juntar pessoas em torno de objetivos comuns, pela ausência de líderes capazes de colocar os seres humanos, não o dinheiro, em primeiro lugar. Pela carência de líderes que valorizem o ser humano, não o poder. Pela carestia de líderes que tenham a destreza de propor, negociar novas formas viáveis de existência humana, catalisando os diferentes anseios das pessoas e endereçando-os com suas devidas especificidades. Pela pobreza de líderes que respeitem a diversidade humana e tenham a capacidade de extrair o melhor de cada um.
Pela falta de líderes que mantenham a integridade, o discurso e a prática coerentes. Pelo desprovimento de líderes capazes de ouvir, de serem humildes, de reconhecerem seus próprios erros e corrigirem os caminhos, quando necessário. Pela ausência de líderes tolerantes, que troquem prestígio por empatia. Pelo vácuo de líderes que atuem como articuladores da paz. Pela total falta de líderes que, todos os dias, se perguntem: como eu posso melhorar a vida das pessoas? Pela completa ausência de líderes que entendam que suas palavras, tanto quanto armas, podem causar danos. Pelo completo equívoco de falsos líderes que acreditam que liderança é sinônimo de mando, prepotência, arrogância, mas, principalmente, pelo vazio de líderes que perante a humanidade tão dividida, como a atual, consigam trazer, com urgência, as pessoas à mesa para discutirem juntas e permanentemente novos caminhos para os grandes problemas da humanidade, tais como guerras, doenças, intolerância, desigualdade, fome, devastação do nosso planeta etc.
Vamos à verdade: fato é que se deixarmos tudo como está, se deixarmos de vez o leite derramar, se seguirmos com esse modelo existencial, monetarizado, sem líderes, precisaremos dedicar um esforço infinitamente maior, do que hoje precisamos, para formar líderes que ajudem a transicionar o atual modelo de sobrevivência para um modelo digno de existência.
Líderes! Com eles criaremos um novo mundo. Sem eles, faço um protesto sobre o que vem ocorrendo no meu próprio país e que exemplifica, perfeitamente, o que a ausência deles pode nos causar. Infelizmente, aqui no Brasil, pela inexistência de líderes íntegros, comprometidos com pessoas, com as instituições, de líderes que tenham compaixão, estamos vivendo há décadas crises por cima de crises que só se justificam pelas atitudes, ou falta delas, das nossas tristes “lideranças”.
Sejamos francos: excluindo reais crises internacionais, nossas agruras têm como origem os nossos próprios governantes. Nossas crises são, via de regra, “Made in Brazil”. E ainda temos a pachorra de colocar a culpa em crises totalmente imaginárias que ocorrem lá fora. Enquanto países com um mínimo de lideranças estão achando soluções para os seus problemas, nós, brasileiros, lamentavelmente continuamos patinando, correndo em círculos e perdendo várias janelas de oportunidades. O que para nós, um povo em sua grande maioria trabalhador, engenhoso, resiliente, tem sido absolutamente lastimável, inaceitável, portanto não podemos, e não vamos mais, concordar que sejamos governados por líderes de quinta categoria.
E, como desgraça pouca é bobagem, com o aparecimento da pandemia, acentuamos ainda mais nossas mazelas em decorrência de “lideranças” egocêntricas, despreparadas, arrogantes, estúpidas que só pensam em se perpetuar no poder. Adendo: economizei nos adjetivos em relação aos nossos “líderes”. O que acredito, de verdade, a respeito deles, em especial de dois, em especial de um, é absolutamente impublicável.
O vazio de líderes é mesmo uma tragédia, mas, para balancear um pouco, deixo também uma mensagem de esperança: quando inundarmos nosso país de Células Sociais Caórdicas, deixaremos de jogar pela janela nossa fantástica capacidade de adaptação, nosso singular talento para criar soluções e nossos estupendos recursos naturais para, juntos, construirmos o país maravilhoso que deve- ras merecemos.
Ah! Que beleza! Nem só de tristezas vive a humanidade! Com a disseminação sem precedentes das informações, temos percebido, embora lentamente, que esse modelo de vida, mais que ultrapassado, degradado, baseado em acordar, trabalhar, monetarizar a nossa existência, comprar e dormir está com os seus dias contados. Felizmente temos percebido que o modelo industrial, muitas vezes escravo, que se impregnou por décadas e décadas em nossas almas e nos transformou, praticamente, em robôs, está agonizando.
Partindo então do princípio de que formar líderes é condição sine qua non para criarmos um mundo melhor, que não estamos totalmente acordados, mas não estamos completamente dormindo, conclamo a todos a voltarmos às aulas de Biologia. Convido a todos para, neste momento, relembrarmos um assunto que não apenas explica a base da nossa existência, como também servirá de base para um novo mundo fundamentado em Células Sociais Caórdicas:
-----------------------------------------------------------------------------------
Trecho do segundo capítulo do livro: Células Sociais Caórdicas: O caminho para um novo mundo. Publicado por Henrique Medeiros em setembro de 2022.